segunda-feira, 24 de junho de 2013

Entrevista: Eraldo Leme Batista




Dando início ao ciclo de entrevistas com os pesquisadores da educação no Brasil, o blog Tecendo em Reverso entrevistou o Profº Drº Eraldo Leme Batista que defendeu no início deste ano na Unicamp sua tese de doutorado com o tema : Trabalho e educação profissional nas décadas de 1930 e 1940 no Brasil: análise do pensamento e das ações da burguesia industrial a partir do IDORT.
A tese contou com a orientação do renomado Profº Drº José Luís Sanfelice (Unicamp).
Na entrevista o pesquisador discorreu sobre a criação do IDORT (Instituto de Organização Racional do Trabalho), a atuação do Estado Novo em relação aos movimentos sociais à época e como se deu a cooptação dos trabalhadores pela burguesia.
O blog Tecendo em Reverso agradece Eraldo Leme Batista por esta valiosa contribuição para a educação brasileira.



Tecendo em Reverso - Em que cenário sócio e econômico se deu a criação do IDORT (Instituto de Organização Racional do Trabalho) no Brasil?

ERALDO LEME BATISTA - Em 1929, aprofunda-se crise econômica mundial, com a quebra da bolsa de valores de Nova York, essa crise mundial afetou o comércio e a indústria no Brasil, contribuindo para o aumento do desemprego e das péssimas condições de trabalho no país. Outra crise desencadeada no país foi a sucessão presidencial de 1930 que, por diversas denúncias de fraudes, levou a um conflito político que só teve resolução com a condução de Vargas ao poder. Em três de novembro daquele, Vargas toma posse como presidente provisório do novo governo.
A disputa pelo poder em 1930, a subida de Vargas ao governo central e as suas acirradas disputas com a burguesia paulista demonstravam as divergências que existiam entre as frações da classe dominante, notadamente, entre fazendeiros e industriais paulistas, que se organizaram e buscaram construir sua hegemonia enquanto fração de classe, a partir do ideário industrialista e inspirado nas teses tayloristas. Foi neste contexto político que os industriais criam o IDORT em 1931.

Tecendo em Reverso - Na sua tese lemos: “Nesse processo de transição pelo “alto” ocorrido em 1930. [...] houve a exclusão de qualquer participação operária na direção econômica, social ou política do país”... Como reagiram os sindicatos e as lideranças operárias? Houve luta ideológica pela hegemonia?

 ERALDO LEME BATISTA - Entendo que foi um processo político, de mudanças na sociedade, com pactos entre as frações de classe burguesa, sem participação dos trabalhadores.  As transformações do trabalho no Brasil não ocorreram de forma pacífica, aceitável ou mesmo com a submissão dos trabalhadores. O surgimento das indústrias, a concentração cada vez maior de habitantes nas maiores cidades do país, os crescentes problemas sociais (falta de moradia e de trabalho, saúde pública precária) e as péssimas condições de trabalho, mais a intensa exploração da força de trabalho no espaço fabril, contribuíram para que os trabalhadores organizassem movimentos contestatórios, pelos principais centros urbanos do país. 
Quero observar que houve resistência dos trabalhadores, disputa política e ideológica por uma sociedade justa. Disputa acirrada de hegemonia nos anos 20 e 30, levando o Estado a intensificar a repressão, tanto ao Partido Comunista, como as organizações sindicais dos trabalhadores.




Tecendo em reverso - De que modo o Estado Novo atuou  em relação aos movimentos sociais?  Getúlio Vargas inspirou-se no fascismo italiano de Benito Mussolini?

ERALDO LEME BATISTA - Entendemos que sob o Estado Novo, a burguesia industrial, visualiza seus interesses concretizados, pois os trabalhadores e movimentos sociais “indesejáveis” são tratados com repressão pelo Estado. Vargas tem projeto autoritário de poder, foi um líder antidemocrático e não mediu esforços para reprimir a luta dos trabalhadores e para perseguir as lideranças comunistas. Sob o Estado Novo, os trabalhadores e lideranças “indesejáveis”, eram presos, torturados e assassinados, sendo que os estrangeiros eram deportados para seus países de origem. 
Vargas era anticomunista e sua relação com os nazistas e fascistas, contribuiu para torná-lo ainda mais autoritário e repressor.

Tecendo em Reverso - Como ocorreu a  “cooptação” dos trabalhadores pela burguesia à época?

ERALDO LEME BATISTA - Ao mesmo tempo que reprime os movimentos grevistas, contestatórios, coopta os industriais para seu projeto de governo, implementando políticas em prol da industrialização, vai introduzindo políticas de cooptação, também dos trabalhadores. Implementava políticas que visassem tal cooptação, intensificando também o discurso ideológico de uma sociedade harmônica, sem classes, na qual todos estariam do mesmo lado, não existindo patrões e operários, mas empregados e empregadores. Vargas defende uma proposta de um sindicalismo que defendesse a conciliação de classes e contribuísse para harmonia de interesses entre capital e trabalho. Neste sentido, afirmo que foi o Estado que gestou todo o processo de cooptação dos trabalhadores, beneficiando a indústria, reduzindo consideravelmente, principalmente durante o Estado Novo, as lutas sociais.


Tecendo em Reverso - Sabe-se que desde sua criação em 1.922 o PCB (Partido Comunista Brasileiro) também conhecido como “Partidão” estabeleceu uma oposição ao pensamento burguês. Qual foi o papel deste partido na organização da classe trabalhadora brasileira?


ERALDO LEME BATISTA - Entendemos que a fundação do Partido Comunista do Brasil, foi um marco na história do comunismo no país, além de ter se tornado um marco para o  movimento operário. Foi fundamental no processo de organização da classe trabalhadora brasileira nesse período. Partido que surge em 1922 e passa a desenvolver trabalho político na organização dos trabalhadores. Este partido entendia e defendia a importância da luta política, não ficando apenas no campo da ação sindical, confrontando-se com a burguesia na disputa pelo controle do Estado, além de confrontar-se com o principal movimento de direita do período, que foi o movimento dos integralistas.



Abraços,
Juliana Gobbe





quarta-feira, 5 de junho de 2013

terça-feira, 4 de junho de 2013

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