terça-feira, 3 de novembro de 2015

Luiz Carlos Bahia

Por Juliana Gobbe



Luiz Carlos Gomes Borges, mais conhecido como Luiz Carlos Bahia nasceu em Salvador (BA). Com uma trajetória artística ampla e variada, passou por praticamente todas as grandes emissoras brasileiras. Atuou também no cinema. Trabalhou com Antônio Abujamra. Compôs músicas e, ultimamente tem se dedicado, além da TV à produção de curta-metragens. Em entrevista ao nosso blogue o artista fala um pouco mais sobre sua carreira.



Foto: Arquivo pessoal do artista.




Tecendo em Reverso – Morte e Vida Severina é o retrato fiel da situação precária na qual vive ainda hoje grande parte do povo nordestino. Como foi interpretar a obra de João Cabral de Melo Neto no teatro sob direção de Eduardo Curado?


LUIZ CARLOS BAHIA – Participar de “ MORTE E VIDA SEVERINA “  foi  muito importante para mim . O teatro estava em um momento muito bom, muitas produções com teor literário , brasileiro , fantástico. Ter contato direto com o poema de João Cabral de Melo Neto ,não foi bom  só para mim ,como para todo um elenco jovem que estava sedento de informações e conteúdos  literários.
Foi um grande momento para todos nós, atores principiantes em São Paulo na década de 1970.
O Eduardo Curado fez uma bela direção ,dando uma postura de teatro de arena , com direção musical maravilhosamente resolvida pelo maestro Carlos Castilho. Não tinha cenários e a luz conduzia  o espetáculo . Para mim, recém chegado em São Paulo, depois de ter feito “ LAMPIÃO NO INFERNO “ , espetáculo que me trouxe do Rio de Janeiro para São Paulo, um cordel de Jairo Lima, dirigido por Luiz Mendonça , foi muito importante, pois eu estava fazendo “ ARTECULTURA ”POPULAR BRASILEIRA E “ MORTE E VIDA SEVERINA “ era uma continuação neste seguimento da literatura de cordel muito importante para a nossa dramaturgia.



Foto: Arquivo pessoal do artista.


Tecendo em Reverso – De que maneira se deu a criação e direção de Cantarena?

LUIZ CARLOS BAHIA – Em relação ao projeto “ CANTARENA “  eu pensei exatamente na posição dos compositores de música popular brasileira. Não se falava dos autores das músicas nos veículos de comunicação : Rádios e TVs.  Aliás, ainda hoje é assim. Salvo alguns programas , como o Sr. Brasil e o Altas Horas que colocam os autores nos créditos.  Então , eu como compositor , percebendo isso, resolvi criar um projeto com este enfoque. O nome “ CANTARENA” surgiu  exatamente por ter sido no Teatro de Arena Eugênio Kusnet , na época  ocupado pelo Grupo do Gianfrancesco Guarnieri , meu amigo que, entendendo a importância do projeto, me deu o espaço para que eu pudesse desenvolver  esta programação. O Projeto teve a estreia com o Renato Teixeira que entendeu o brado do “ CANTARENA” “ um canto na arena” ) . Teatro histórico pelos movimentos de liberdade. Foram oito espetáculos e, após esta temporada , não tínhamos mais condições de continuar, pois faltava a tal da verba. A produção era minha e da Carla Masumoto , parceira nesta empreitada.  Três anos depois, com o convite do Denoy de Oliveira  para participar  com ele da criação do CPC da UMES , eu apresentei o Projeto “ CANTARENA “ . Com a junção do nome da entidade “UMES” (União Municipal dos Estudantes Secundaristas ) ficou : “ UMES CANTARENA “ . Um marco para a música popular brasileira ! Vários compositores , renomados e também desconhecidos , por ter um bom trabalho , tinha o seu espaço . Foi um grande sucesso , de 1994, exatamente no  dia 31 de outubro de 1994, com o Carlos Lyra , a grande estreia , até 2001  tendo registrado em cinco CDs ,  ao vivo, momentos maravilhosos que por lá passou !
Foi uma grande experiência, mais de 150 espetáculos, com artistas de todo o Brasil ! Um grande aprendizado.

Veja a relação dos artistas:
UMES-CANTARENA
Criado e dirigido pelo poeta, ator e compositor Luiz Carlos Bahia, o projeto musical, “UMES-Cantarena”, realizado entre os anos de 1994 e 2001, traçou um amplo painel da Música Popular Brasileira, apresentando em cada espetáculo um compositor interpretando sua própria obra.
O projeto deu origem a uma coleção de cinco CDs. Seu nome vem da época em que o Teatro Denoy de Oliveira chamava-se ainda Teatro da UMES e tinha a forma de arena. Por ele passaram mais de 150 compositores e 600 músicos acompanhantes.
Confira abaixo a relação completa dos artistas que se apresentaram no projeto:
1994 a 1998
Adauto Santos
Adler Maragnon
Alaíde Costa
Aldo Bueno
Alzira Espíndola
Ana de Hollanda
Anastácia
Antonio Carlos e Jocafi
Arlindo Cruz e Sombrinha
Badi Assad
Banda Moxotó
Bando Flor do Mato
Batatinha
Belchior
Caíto Marcondes
Capinam
Carlinho Lyra
Carmen Queiróz
Cátia de França
Celso Machado
Celso Viáfora
Chico César
Chico de Abreu
Claudio Nucci
Daniel Gonzaga
Dante Ledesma
Délcio Carvalho
Dércio Marques
Dinho Nascimento
Diniz Vitorino
Don Tronxo
Dona Ivone Lara
Duofel
Edil Pacheco
Ednardo
Eduardo Gudin
Edvaldo Santana
Elieser Teixeira
Elomar
Embaixadores da Lua
Eugênio Leandro
Fábio Paes
Fátima Guedes
Filó Machado
Fuba
Grupo Tarumã
Hélio Braz
Ibys Maceió
Ivone Portela
Irineu Marinho
Jair Rodrigues
Jarbas Mariz
Jards Macalé
Jean e Paulo Garfunkel
Jica e Turcão
João Bá
João Mattos
Jorge Mello
José Felice
Juca Novaes e Eduardo Santana
Julio Sanches
Juraildes da Luz
Lourinaldo Vitorino
Lourival Tavares
Lúcio Barbosa
Luiz Avelima
Luiz Carlos Bahia
Luiz Carlos Borges
Luiz Carlos da Vila
Luiz Perequê
Luiz Vieira
Luizinho SP
Luli e Lucina
Marcus Vinícius
Maria da Paz
Maria Marta
Mário Lago
Milton Edilberto
Mina das Minas
Moacyr Luz
Monarco
Nei Lopes
Nelson Sargento
Neto Fagundes
Ney Couteiro
Noca da Portela
Osvaldinho da Cuíca
Oswaldinho do Acordeon
Oswaldinho Viana
Paulinho Pedra Azul
Paulinho Tapajós
Paulo César Pinheiro
Paulo Padilha
Paulo Simões
Pedro Osmar
Pedro Sertanejo
Rafael Altério
Renato Teixeira
Reynaldo Bessa
Rhayfer
Roberto Lapiccirela
Roberto Menescal e Márcia Salomon
Rosa Passos
Sérgio Ricardo
Sérgio Santos
Sílvio Modesto
Sombra
Tarancón
Tato Fischer
Terramérica
Tetê Espíndola
Théo do Valle
Thetê da Bahia
Thobias da Vai-Vai
Tom Zé
Valdeck de Garanhuns
Vange Milliet
Vânia Carvalho
Vicente Barreto
Victor Hugo
Vidal França
Waldir da Fonseca
Walter Alfaiate
Walter Franco
Wilson Moreira
Xangai
Xangô da Mangueira
Zé Geraldo
Zé Ketty
Zeca Baleiro
Zédi
Zezé Freitas
1999 a 2001
Adylson Godoy
Anna Torres
Antonio Barros e Cecéu
Antúlio Madureira
Banda Mafuá
Banda de Pífanos de Caruaru
Bando de Macambira
Carlinhos do Cavaco
Celso Viáfora
Chico Souza
Cida Lobo
Chico Teixeira
Daniela Lasalvia
Dayse Cordeiro
Guinga
Jarbas Mariz
Kiko Perrone, Charles Negrita e Julio Sanches
Lupe Albano
Madan
Milton Dornellas
Moacyr Luz
Mochel
Paqüera
Paulo Diniz
Roberto Mendes
Roberto Simões
Rubinho do Vale
Téo Azevedo
Theo de Barros
Vinícius Brum
Wilson Aragão
Zé Geraldo e Nô Stopa


Foto: Arquivo pessoal do artista.




Tecendo em Reverso – O programa Bambalalão foi um marco na produção artística para o público infantil brasileiro. Qual é a avaliação que você faz do que se produz hoje para crianças?

LUIZ CARLOS BAHIA – O Programa   Infanto  Juvenil  “ BAMBALALÃO “ , foi um grande marco para as crianças da época : década de 80 e 90 .Era um programa ao vivo, com grande teor educacional ! Tudo devidamente pensado e pesquisado para oferecer o melhor para o público alvo : as crianças!
Uma bela postura da TV Cultura que tinha, em sua programação, também pérolas como : “ CURUMIM “ , “ CATA VENTO “ , depois veio o “ CASTELO RÁ -TIM -BUM “ , “ COCORICÓ “ , “ QUINTAL DA CULTURA “ ! Ah, antes teve o belo programa do Daniel Azulai .
 No Rio de Janeiro, na TVE  tinha a Bia Bedram  e o Alby Ramos , além do Daniel Azulai que já tinha partido para o Rio de Janeiro.
Hoje, tirando o teatro que produz grandes espetáculos culturais , houve um grande esvaziamento educacional nos programas infantis das TVs abertas , onde  o mais importante é vender produtos, propagandas infernais , para invadir e alienar as crianças.




Foto: Arquivo pessoal do artista.



Tecendo em Reverso – Em O palhaço e o operário você foi dirigido por Antônio Abujamra. Qual é a importância desse intelectual para o Brasil?

LUIZ CARLOS BAHIA – O Mestre Antônio Abujamra , antes de tudo, era um grande filósofo !
Trabalhar com o “ ABU” era assim chamado, carinhosamente pelos amigos  e , aí, eu me incluo , era como estar tendo uma aula ! Aula de criatividade e liberdade !
Com o “ABU” a responsabilidade do acerto e do erro tinha a mesma importância. Era um Gênio !
O “ ABU “ gostava de dizer : “ ESTE VAI SER O MEU MAIOR FRACASSO “  e era mesmo... rsrs.
O sucesso e o Fracasso vinham na mesma travessa , daí, a importância intelectual  do “ ANTÔNIO ABUJAMRA” .
Ele não se  preocupava com o “ TAL” mercado . Era um artista, acima de tudo !
O Programa “ PROVOCAÇÕES”, NA TV CULTURA , que tem a apresentação dele e a direção dele com o Gregório Bacic , para mim , é um dos melhores programas , se não o melhor . O melhor programa de entrevista e filosofia. Abujamra cita textos, tantos literários quanto filosóficos, com muita propriedade e sabedoria ( digo cita, por estar, ainda , no ar, reprisando ).
Antônio  Abujamra : “UM DOS HOMENS MAIS INTELIGENTES E CULTOS QUE EU CONHECI E TIVE O PRAZER DE TRABALHAR E CONVIVER”.
Grande mestre. Faz muita falta !



Foto: Arquivo pessoal do artista.



Tecendo em Reverso - Recentemente você atuou no premiado curta Reimundo. O argumento da proposta é seu. O que o levou ao desejo de filmar a história?

LUIZ CARLOS BAHIA – O que me levou a criar e realizar o curta metragem “ REIMUNDO” , acredito ter sido uma “ INQUIETAÇÃO” dentro de mim.  As frases , os poemas e as poesias , gritavam  e gritam , dentro de mim ! Então , eu senti a necessidade de colocar para fora,  mas eu não queria que fosse  de uma forma , digamos assim, acadêmica . Eu preferi o simples , o homem simples e então , eu percebi  os “ INVISÍVEIS “ , cheios de vidas , histórias , desacertos sociais e criei um “ POETA DE RUA “ , um andarilho , com muitas estórias populares , coisas que o povo vai contando e aumentando. O “REIMUNDO”, por ser um “ INVISÍVEL” tenta se fazer ouvir pela poesia.  Ele declama pelas ruas .  É a oralidade no cinema , que é a arte da fotografia  “ REIMUNDO” tem a palavra como o ponto chave. “REIMUNDO” mostra o homem ,  seu caminhar, sozinho e cheio de histórias e estórias. Ele deixa claro que é preciso o cuidado com a nossa casa, que é o nosso planeta.  Ele brada contra a violência,  ao mesmo tempo que externa uma grande pureza.
É um grito pela inclusão social do “ INVISÍVEL”,aí o “ REIMUNDO” tenta se fazer “ OUVÍVEL”.  .
Para o curta metragem “ REIMUNDO”, que por ter argumento, roteiro, músicas, em parceria com o maestro Dyonísio Moreno, e ainda a interpretação realizada por mim, eu convidei o Mário Vaz Filho para fazer a Direção e , assim eu poder desenvolver melhor o meu projeto, que tem no elenco : o veterano e grande cineasta “CLERY CUNHA” , o Homero Barreto, a Laila Borges, a Janaína Moreno e a participação especial e afetiva do meu querido amigo: CHICO CÉSAR .
“ REIMUNDO” ganhou recentemente em agosto, o prêmio de Melhor filme e de melhor ator para Luiz Carlos Bahia , no papel de “ REIMUNDO” , no primeiro festival de cinema curta metragem de Cajazeiras, Paraíba.